Antes da criança chegar ao ensino fundamental
Quando nascemos, somos totalmente dependentes de um outro, não só para a sobrevivência corpórea, mas também para a construção psíquica. É necessário que exista alguém para realizar os cuidados básicos para o bebê, como alimentá-lo, limpá-lo e protegê-lo. Porém, apenas esses cuidados podem não ser suficientes para o desenvolvimento emocional saudável de uma criança.
É preciso que o cuidador olhe para o bebê e lhe apresente o mundo, ajudando-o na construção do Ser. Para que isso ocorra, é necessário que o cuidador se doe para o bebê, e coloque à disposição dele o seu próprio corpo e também o seu desejo.
Desse modo, não é esperado que o bebê reproduza uma cópia fiel dos desejos e dos gostos do cuidador e sim, que a partir desta disponibilidade, o bebê seja capaz de descobrir o mundo através do seu próprio corpo e desejo.
Donald Winnicott foi um pediatra e psicanalista inglês que acreditava que o meio ambiente é muito importante para o desenvolvimento emocional do bebê. A sua teoria que permanece aceita, nos dias atuais, é de que a mãe não precisa ser perfeita e completa, somente precisa ser suficientemente boa. A mãe suficiente boa é aquela que atende as necessidades fisiológicas tais como alimentar, limpar, agasalhar e as emocionais como apoiar, oferecer carinho, proteção e estimulação. Além disso, é necessário que a mãe vá aos poucos frustrando seu bebê, para que ele consiga lidar, pouco a pouco, com a realidade e possa enfrentar o mundo na medida em que se desenvolva. Importante ressaltar que ser uma mãe suficientemente boa é algo que acontece natural e intuitivamente, para a maioria das mães.
Quando a criança chega à escola, espera-se que o seu desenvolvimento emocional tenha alcançado determinado ponto no qual ela seja capaz de lidar com a vida social escolar, com as suas regras e cobranças, de modo satisfatório. Porém, surge uma pergunta: será que todas essas crianças tiveram uma mãe suficientemente boa? Se a resposta for não, como o professor poderá contribuir para que tal criança possa resgatar esse cuidado inicial e consiga se desenvolver de modo satisfatório?
Provavelmente, uma criança que não teve uma mãe suficientemente boa ou um ambiente saudável no qual pudesse se desenvolver, não adquiriu conceitos de segurança e de organização interna e externa. Sendo assim, essa criança levará para a escola os seus medos e a sua desorganização e dificilmente irá responder adequadamente as exigências da escola.
Em tal situação, o professor terá um papel muito importante na vida dessa criança. O professor poderá, dentro da sala de aula, olhar genuinamente para a criança, isto é, olhá-la com verdadeiro interesse e lhe oferecer a sua presença viva e os seus recursos para que, a partir dessa experiência afetiva, a criança possa desenvolver os seus próprios recursos. Winnicott dizia: Quando olho, sou visto; logo existo. Posso agora me permitir olhar e ver.
Professor suficientemente bom
É importante entender que não cabe ao professor assumir a criação do seu aluno, cabe à escola outro papel, o de formação. Porém, se a criança apresenta um déficit, o professor pode ser alguém capaz de promover mudanças e de construir com a criança outros caminhos que poderão ser seguidos.
O professor suficientemente bom não é o professor perfeito tampouco é o professor permissivo ou passivo. O professor suficientemente bom é aquele que acolhe e que apresenta dados de realidade à criança; é aquele que suporta que a criança experimente a frustração entendendo que esta também é um organizador que promove o pleno desenvolvimento. Além disso, o professor suficientemente bom pode ser uma figura de autoridade, pois a criança precisa de referências e regras, mas é necessário saber a diferença entre autoridade e autoritarismo. A autoridade dá os limites e oferece segurança à criança, enquanto que o autoritarismo não permite que a criança tenha as suas próprias experiências e, muitas vezes, ajuda a formar indivíduos inseguros e agressivos.
