A Psicoterapia Infantil

Não é raro surgirem questionamentos sobre os métodos utilizados em uma psicoterapia infantil. Algumas pessoas fantasiam que a psicanalise é lugar apenas para quem é capaz de deitar no divã e falar, através de um discurso refinado, sobre sua dor. Há também dúvidas sobre a relevância do brincar: “mas meu filho virá aqui só para brincar?” e a resposta correta é “sim e não”. O brincar, para a psicanálise, é de extrema importância para o desenvolvimento do indivíduo e é a partir dele que a criança é capaz de visitar situações difíceis, traumáticas ou confusas e elaborar de maneira saudável o que, até então, gerava angústia.

No livro O brincar e a realidade Winnicott diz que é somente no brincar que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e descobrir seu self. Além disso, é somente no brincar que é possível a comunicação. O autor considera que a psicanálise é uma “forma altamente especializada do brincar, a serviço da comunicação consigo mesmo e com os outros” (WINNICOTT, 1975, p. 63). Quando o paciente não é capaz de brincar, o terapeuta deve dirigir seu trabalho no sentido de levá-lo a conseguir brincar.

Sendo assim, um consultório de psicoterapia infantil deve conter brinquedos, materiais gráficos, jogos e o que mais for necessário para disponibilizar um setting onde a criança se sinta confortável para criar. Além disso, é necessário que o psicólogo infantil seja capaz de acolher todas as fantasias que o paciente traz e, quando necessário, ajudá-lo a nomear e contornar as emoções e sentimentos que surgem a partir da brincadeira e ressignificar as experiências vividas.

Rubem Alves fala em um trecho de Coleção Estórias para Pequenos e Grandes sobre como é possível dar outros significados para os conflitos da infância através de contos, traduzindo com precisão a prática do espaço terapêutico:

“O mundo das crianças não é tão risonho quanto se pensa. Há medos confusos, difusos, as experiências das perdas, bichos, coisas, pessoas que vão e não voltam…(…) Não é possível fazer de conta que eles [os temas doloroso] não existem. Os maus espíritos, a os espanta chamando-os pelo nome real… O objetivo da estoria é dizer o nome, dar às crianças símbolos que lhes permitam falar sobre seus medos. E é sempre mais fácil falar sobre si mesmo fazendo de conta que está falando sobre flores, sapos, elefantes, patos…(…)”

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